segunda-feira, 3 de maio de 2010

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Meu corpo, minha casa, minha proteção.
Minha alma é delicada, precisa de uma casca grossa, mas não tão rígida assim porque se não qualquer beleza por ela pode se quebrar e amedrontar.
Não é à toa que na minha crosta tenho várias feridas. Felicidade para entrar e tudo de mim para sair. (Mas o negócio é tão ruim que elevo-o a um tudo todo ruim).
É tão fácilreclamar, zangar-se e culpar alguém. Mas por que devo culpar pelo que me protege? Talvez prestando, ou não, muita atenção nele, sei que a mim é fiel, pontual e perfeito ao meu modo.
Lembro-me tanto das vezes em que o maltratei e que de tanto chorei, chorei.
Pelo mesmo local que saía as angústias, era o mesmo que me fazia viver às cegas quaisquer das belezas. Foram tantos jorros d`água que aos poucos fazem-me enxergar.
De que me adiantaria chegar a beleza de meus sonhos? Experiências (significativas e verdadeiras?), facilidades, números (realmente a matématica é imortal), conquistas (ou derrotas?), etc. e etc. Até que um dia não controlaria a fome do desejo, da satisfação e tornar-me-ia uma roliça de orgia. (O prazer é invariável, ora inibidom=, ostentador e vulgar, um vil; ora um mágico, passando em frente à cegueira e atuando em bons cenários enconderijos). Poderia ter rédias e cavalgar corações, talvez até mais perdidos que o meu. E as feridas continuariam ali, não sei se mais abertas ou fechadas. O que seria maior? O que entrava ou o que saía - se saísse? Ou só mais o vazio preencher-me-ia?
A crosta é grossa, teimosa demais. Ganhaste um engraçado assustador. Por ser forte e audaz, zombava até demais de aventuras, espelhava-se sempre em sua heroína - sempre foi uma desbravadora. Mas essa crosta é muito teimosa, e diariamente esquecia de sua fina espessura e deixava cair amores. (Não que elanão os quisesse, mas era excessivamente escorregadia, e a heroína ufana não se lembrava que o amor é muito mais escorregadio, e cansada deixava escapar e/ou não lutava pelo amor outra vez).
Consinto que minha casa é uma tremenda harmonia. Com tantos buracos lá dentro, tanta indiferença, tanto egoísmo, tanta mesmice ruim, poderiam prender minh`alma, corroer-me ao máximo. Mas tenho um fiel pedreiro que continua martelando.
Em minha casa há jardins com variadas flores. Posso presenteá-las ou então abusados roubam-na de mim que ao cortarem as flores, o amor grita de dor, pois por enquanto nenhuma flor roubada conseguiu voltar. E as pragas... Difícies de lutar... Agem com maudade, ou não; conscientemente, ou não; mas que preojudicam e aos poucos me envenena. Algumas vezes o ataque é tão ferroz que expulso alguma substância da sua maldade.
Minha alma não tem o que reclamar. Sua casa não transparece toda a sua desordem e, infelizmente, todas as suas belezas.
Estou vivendo e estou bem.

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