terça-feira, 16 de setembro de 2014

Regar flor, café e poesias.

    Como é por dentro outra pessoa
    Quem é que o saberá sonhar?
    A alma de outrem é outro universo
    Com que não há comunicação possível,
    Com que não há verdadeiro entendimento.
    Nada sabemos da alma
    Senão da nossa;
    As dos outros são olhares,
    São gestos, são palavras,
    Com a suposição de qualquer semelhança
    No fundo.

    Fernando Pessoa, 1934

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Saúde mental

Valor de uso/ Valor de troca

Pressão, pressão! Já vai explodir...

Eu, homem negro, que não sei dialogar, não pude e não sei chorar, ajo de forma que quero. Sou o homem (ausente) de casa.

Tanta dureza o dia inteiro. Preciso de um paliativo. Depressa, depressa, se não vou explodir.

Todo dia trânsitos maquiavélicos que agridem minha saúde. Estresse, cigarro e cerveja, é o mínimo. Todo dia, doses do miúdo cotidiano que nos crucifica.

Esposa que a fiz do meu prazer. Nem procurei compreender e respeitar seu corpo. Não te fiz estremecer, não te fiz jorrar. Estive dentro de ti fisicamente, e uma célula do meu corpo te fez uma filha.

Negação, contradição, superação. Nem sempre se supera elas. Parei muitas vezes no senso comum, numa religião que nada me serviu; tive uma vida sem amor paterno e uma mãe morta por seu próprio coração.

Troquei mulheres, interferi famílias.
Bebia cerveja e deixava minha filha.
Em casa, com a melhor pessoa do mundo que  poderia amá-la.

Minha vida foi uma correria. Meus problemas não sumiam. Até que meu corpo parou pela mesma armadilha da mãe. Fraco demais para não expressar minha insensatez e insanidade.
Eu não dava conta de tudo mais isso.

Thamiris de Oliveira 01/09/14

Aulas de Serviço Social

Politicamente (in)correto

O corpo que é de mim não me pertence.
Minhas idéias imortais querem matá-las;
Ferem-a, colocam-as injúrias
no que se sente com prazer e era venerado
em outros tempos, por filósofos e gregos (misóginos);
apesar das limitações de todas conjunturas

Meu corpo é aprisionado.
Não o vejo como representação,
apenas como mais um produto.
Na mídia, o espelho é a cor branca da cegueira
(como em Saramago ou algo parecido)

Com meu povo, e que muita gente esqueceu quem são,
é subjugado contra os muros,
ou quando os quebram, recolocam em um lugar de "luxo", que não é nosso.
Pensam que a cidade de pedra respira,
enquanto a mata é o que nos dá vida.

Do meu gênero nem se fala,
por décadas é colocado abaixo de um pau.
Queimadas em fogueiras,
espancadas por chicotes.
Jogaram-me ácido no rosto,
e até agora não sei o porquê.

Acredito que toda essa violência vem do medo.
Toda estratégia vem da guerra.
Para exterminar um povo, bastar liquidar sua cultura.

Por isso que digo, que penso e repito:
Mulheres, nós somos essenciais.
Quando perceberem que somos a resposta de todos os antagonismos
produzidos pelos homens, e mostra-lhes
que juntas e juntos podemos mais,
não sei se irão agradecer, ou com mais medo apedrejar mais Genis
(mas a gente monta uma barricada).

Por isso mantenho minha a minha essência flutuante.
Carrego o sangue de meu povo.
Gero a vida ou nego a morte em vida com um aborto.

Não luto por ordem nem progresso.
Essa pátria não me pariu.
Luto por gente, por vida.
Luto pela minoria a qual querem acreditar que sejamos.

Eu digo e repito:
Sou mulher, sou homem, sou puta e vadia, sou índia, sou lésbica.
Eu sou o que carrego e o que aguento ser.

Thamiris de Oliveira 24/09/13