segunda-feira, 11 de março de 2013

Criança x adulto

 Por mais que crianças não saibam como, por que e para que comer, elas se alimentam melhor. Os víveres são introjetados por outras pessoas. Pode ser que crianças até sejam mais resistentes e relutantes, esperneiam e comem. Quando mais velhos também comem. Todos os tipos de víveres são induzidos para viver e morrer.
 A planta que nos foi dada, dificilmente era saboreada. Nossos adultos tinham, até muito das vezes, que nos premiar por atos mais banais e simples. E saudáveis.
- Quero ver: quem comer o prato mais colorido e tudinho, vai ganhar um super presente! E ainda vai ser campeão (na vida. Olha que maravilha)!
 Mas com o passar do tic e tac, nossas plantas verdes foram preparadas e cozinhadas de outra forma. Elas eram cozinhas e temperadas, mas agora elas estão mais quentes, estão queimando a coitada da flor - não da couve. Ela também faz bem, brinca com a nossa imaginação, mas também faz mal. Ouvi dizer uma vez algo relacionado a inalação de fumaças - para que quero elas dentro de mim? (Bom, muitos hábitos e condutas mudam com a idade, sobretudo a maneira de ser as palavras e seu entendimento).
 Quando criança, lembro gostar muito de açúcar, chocolate, sorvete, bolo (bolo eu confesso que só fui gostar na adolescência). Uma substância tão pequenina, bonitinha, parecida com cristais, faziam-me chegar as alturas! E me esforçava bastante para consegui-los. Comia o almoço e janta toda, dava beijo no pai e na mãe, era o xodó da família. E não carregava comigo nenhum sentimento de estar sendo oportunista, ou pelega. Era simples. Era tão feliz.
 Já adulta, esse açúcar mudou. Nem sabor ele tem e nem na boca saboreia-se. Nunca precisei me esforçar muito para consegui-lo. O dinheiro dinheiro nos traz tantas facilidades, até mesmo com este papo de encurtar distâncias (como acerca da globalização). O que me deixava nas alturas, hoje me leva ao delírio. Não consigo entender por que não sou mais tão querida na família, POIS EU SOU TÃO BONITA! E depois mais feia que qualquer fase na adolescência esquisita. Quando eu comia esse açúcar eu engordava - confesso que não gostava - mas esquecia logo após de iniciar uma brincadeira ou distração. Agora estou cada vez mais magra, por dentro e por fora. E alguma coisa me faz lembrar disso toda hora! Não consigo esquecer!
 Lembro que gostava muito de balas! Mamãe enchia o saco para eu não ter cáries, e também me ensinou a dividir minhas balinhas com amigos (acho que desde criança já partilhava de algum socialismo). Balas de cereja, menta e hortelã. Era conhecida como a menina mais corajosa que enfrentava as balas mais ardidas, azedas. Mas o tempo vai, o tempo não mais vem, e as balas continuam com o mesmo nome. Não mais com o mesmo significado ou sentido. A bala agora é só para mim! E ela tira minha fome e minha sede, só não sai de dentro de mim - por um tempo. Antes elas me dessem só cáries, hoje saberia como as prevenir. Mas por mais que eu queira, não dá para controlar minha velhice. Parece que ela chega mais rápido ao meu rosto e a única solução que vejo é gastar mais dinheiro (outra coisa chata que se aprende quando cresce) para recuperar uma beleza pueril. Mas ela é sempre roubada, parece até que não pertence a mim. Minha beleza some.
 Tem outro tipo de bala que perdeu gosto. Não é doce nem saborosa. É azeda e só minha! E eu quero mais e mais. Alguns loucos dizem até que ficarei sozinha, mas são eles que não me entendem! Gente maluca, engraçada e chata. Fazem-me rir ainda mais.
 E por fim, temos também os líquidos. Assim como os víveres, nos fazem viver. E foi assim que desde muito pequenos conhecemos a água. É transparente, leve - de acordo com seu temperamento e pressão - sem cheiro e sem gosto. Características que não consigo entender desde sempre e talvez até nunca. Gosto da ciência, mas nada mais agradável que seguir nossos instintos e sentidos. A água refresca, carrega proteínas, carboidratos e sais minerais para todo o meu corpo: da unha do pé ao último fio de cabelo. E quanto mais exausta, mais eu bebia e mais me revitalizava. Com o passar dos anos, não sei por quê, fui bebendo-a cada vez menos - confesso que nunca fui grande fã de beber água, mas - cada vez menos (tem dias que bebo mais café que água!).
 Mais para frente, esse líquido se tornou amarelo, gasoso e espaçoso. Ou até continua transparente sim, mas com um sabor terrível. E quanto mais eu o bebo, mais o bebo e menos me aguento. Eles trazem a mim não a revitalização, mas um peso que não consigo aguentar. Mulheres, estudo, emprego, dinheiro. Eu bebo e esqueço. Vê-se lá se terei tempo de cuidar do meu coração!
 E ainda dizem que o tempo é rei. Nem dá saudade ele é. Alguns resquícios dela sempre estarão com você, por mais que as lembranças não tenham mais importância e sentimentos; você lembra daquilo que já teve ou possuiu.
 E como tenho saudade daquele tempo que eu achava que era uma princesa à perfeição de uma rainha. Lá, meus sonhos se multiplicavam e me davam forças para querer crescer e desbravar. Queria ser uma tal de uma rainha. Hoje sou nada.
 O tempo não é rei. Talvez o passado seja ou já foi. O tempo é escravo que se apropria dos alimentos para corroer nossos sonhos.

27/02/13 Thamiris de Oliveira.