quinta-feira, 27 de maio de 2010

Profissões do amor

Profissões do amor

Começei com Serviço Social, doando-me mais que recebendo; envolvendo-me mais que ser a solução. Procurei compartilhar minha motivação, construir um relacionamento mostrando claramente a minha política de fidelidade, minha voraz vontade de amar e ter companheiros para minhas batalhas; que desfrutasse de minhas ideologias e que caminhassemos para a ascenção. Mas não deu muito certo. Podem ter se confundido com filantropia, ou até mesmo não entenderam. Uma profissão sacrificante, batalhadora e fiel que não tem seus méritos reconhecidos.
Então pensei em outro curso, sem claro abandonar o que já faz parte de mim.
Pensei primeiramente em geografia. Com topografias expondo prazer a cada localidade. Não largando a política, mas talvez esquecendo da fidelidade. Mexendo com a natureza, brincando de Deus no seco e no molhado, assoprando arrepios e provocando errupções. Mesmo assim, não tendo precisões concretas de chuvas, secas e abalos. Mas requer muitas viagens e pesquisas por campos floridos.
Porém, por que não filosofia? A arte do saber, a pulga atrás da orelha do curioso. O saber entender e saber explicar. Com um tabuleiro misturado de idéias nem todas serão damas ao meu pensar; assim, logicamente minhas utopias seriam esquecidas e talvez me entendessem certamente complicada.
E por fim, letras. A brincadeira de encaixes de abecedário formando palavras, frases e pensamentos. Mostrando minha escrita e deixando à vontade para me fazer gênese de inspirações de seus romances. Podem descobrir minha literatura, odiá-la ou venerá-la, ou se quiser eu conto também. Contudo, a letra é perigosa, cheia de nuances, lacunas e ponto final. Uma linguagem malandra que consegue passar desapercebido pelos desatentos, deixando exclamadas interrogações no silêncio das reticências. Ademais, minha comunicação não serve para todas as línguas e assim não fazem de mim radical para conhecer minha raiz.
E o que sou é um amor desempregado.

Thamiris de Oliveira 23/02/10

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Ponha fogo

Rasgo tuas roupas
Espalho-te em meus lençóis.
Enrolo os lençóis em ti,
E te aperto,
E te lambo.

Acho o lugar,
Puxo teu veneno.

Acendo um cigarro.

Thamiris de Oliveira 03/05/10

1

Emprestaram-me um livro. Deram-me conhecimento, acrescentaram-me vocábulos e adicinaram confusão.
Peguei o livro sem fé e começei a lê-lo, e continuo lendo-o sem fé.
Tenho o costume de me guiar pelos números das páginas, aos finais para o começo de outro capítulo. mas após ler um pouco, vi que havia algum mistério nessas estórias, e como uma fiel confidente de seus infímos e regulardos mistérios de minha mania, me guardei.
Não sei o final do livro, ainda não acabei. Não sei se vou acha-lo melhor ou pior.
Não tendo respostas àlgumas perguntas, pensei em mim. (Poderia ter pensado em inúmeras criaturas; mas que diabos estou eu sendo a personagem principal? Talvez seja eu a pessoa que tanto que ser entendida e entender).
A incerteza. Algo bom ou ruim? Continuo respirando.
Pensei em representar o amor sendo a água - representam a água como algo curador. E de que cura eu preciso?
E eu neste vasto céu vou caindo, caminhando para o fim. Eu uma minúscula gotícula d`água.
Às vezes flutuo. Pareço voltar a estágios mais iniciais e penso que é assim, pois criança tem nostalgia de felicidade. E vou indo...
Até que penso em encontrar alguém "igual" a mim. A "mesma" doçura, confidência, segredos, intimidades, sensualidades, prazer, tudo uma analogia.
Enfim, achamo-nos. Duas pequeninas gotícolas em um vasto céu. E com a tamanha compatibilidade formamos algo maior e mais concreto. Transformamo-nos em um cristal de gelo visível, balançando sentimentos no ar.
Um cristal de gelo. Uma junção de infinitas substâncias tão forte, maior, concreta e fria.

2

Meu corpo, minha casa, minha proteção.
Minha alma é delicada, precisa de uma casca grossa, mas não tão rígida assim porque se não qualquer beleza por ela pode se quebrar e amedrontar.
Não é à toa que na minha crosta tenho várias feridas. Felicidade para entrar e tudo de mim para sair. (Mas o negócio é tão ruim que elevo-o a um tudo todo ruim).
É tão fácilreclamar, zangar-se e culpar alguém. Mas por que devo culpar pelo que me protege? Talvez prestando, ou não, muita atenção nele, sei que a mim é fiel, pontual e perfeito ao meu modo.
Lembro-me tanto das vezes em que o maltratei e que de tanto chorei, chorei.
Pelo mesmo local que saía as angústias, era o mesmo que me fazia viver às cegas quaisquer das belezas. Foram tantos jorros d`água que aos poucos fazem-me enxergar.
De que me adiantaria chegar a beleza de meus sonhos? Experiências (significativas e verdadeiras?), facilidades, números (realmente a matématica é imortal), conquistas (ou derrotas?), etc. e etc. Até que um dia não controlaria a fome do desejo, da satisfação e tornar-me-ia uma roliça de orgia. (O prazer é invariável, ora inibidom=, ostentador e vulgar, um vil; ora um mágico, passando em frente à cegueira e atuando em bons cenários enconderijos). Poderia ter rédias e cavalgar corações, talvez até mais perdidos que o meu. E as feridas continuariam ali, não sei se mais abertas ou fechadas. O que seria maior? O que entrava ou o que saía - se saísse? Ou só mais o vazio preencher-me-ia?
A crosta é grossa, teimosa demais. Ganhaste um engraçado assustador. Por ser forte e audaz, zombava até demais de aventuras, espelhava-se sempre em sua heroína - sempre foi uma desbravadora. Mas essa crosta é muito teimosa, e diariamente esquecia de sua fina espessura e deixava cair amores. (Não que elanão os quisesse, mas era excessivamente escorregadia, e a heroína ufana não se lembrava que o amor é muito mais escorregadio, e cansada deixava escapar e/ou não lutava pelo amor outra vez).
Consinto que minha casa é uma tremenda harmonia. Com tantos buracos lá dentro, tanta indiferença, tanto egoísmo, tanta mesmice ruim, poderiam prender minh`alma, corroer-me ao máximo. Mas tenho um fiel pedreiro que continua martelando.
Em minha casa há jardins com variadas flores. Posso presenteá-las ou então abusados roubam-na de mim que ao cortarem as flores, o amor grita de dor, pois por enquanto nenhuma flor roubada conseguiu voltar. E as pragas... Difícies de lutar... Agem com maudade, ou não; conscientemente, ou não; mas que preojudicam e aos poucos me envenena. Algumas vezes o ataque é tão ferroz que expulso alguma substância da sua maldade.
Minha alma não tem o que reclamar. Sua casa não transparece toda a sua desordem e, infelizmente, todas as suas belezas.
Estou vivendo e estou bem.

3

(Tenho medo do frio)
E nós, essa ínfimas gotículas dançantes unidas; uma beleza como um cristal.
Esse cristal de gelo frio (como tenho medo desse frio; congela minha alma, me envelhece e é difícil de sair) que de tão frio, queima. E seguiríamos assim: irradiantes, quentes e queimadas pela paixão. Tão vulnerável! Vastra só um sopro para esfriar.

4

Contudo, ainda não há uma gotícula; minha casa não virou um palácio de cristal, e nenhuma rainha governa por lá.
Mas eu sei que já uma constante ventania, e essa interpérie não ten validade para cessar.
Que grande mistério.

Thamiris de Oliveira 12/08/09